Por José Rezende,
Ouço e leio com frequência os companheiros falarem e escreverem que falta nos clubes e na seleção brasileira um camisa 10. Enfim, para eles não temos um camisa 10 no futebol brasileiro. Que camisa 10 é esse?
Se os companheiros estão se referindo ao chamado meia armador de grande capacidade de criação, com qualidade de passe e alta precisão nos lançamentos longos estão equivocados.
Nos tempos do sistema WM, jogava-se com dois meias armadores, um pela direita e outro pela esquerda. Desde 1947, com o uso da numeração nas camisas, de 1 a 11 do goleiro ao ponta-esquerda, para felicidade dos narradores esportivos, o meia-direita vestia a camisa 8 e o meia esquerda a camisa 10.
A seleção brasileira no sul-americano de 1949 e na Copa do Mundo de 1950 possuía dois extraordinários meias: Zizinho 8 e Jair Rosa Pinto 10. A dinastia da camisa 8 começou com o Mestre Ziza e continuou a ser usada por seus herdeiros Didi e Gerson. Na Copa de 1958, Didi atuou com o número 6. Na Copa de 1962, no Chile, Didi vestiu a camisa 8.
No final da década de 40 e início dos anos 50, Jair usava a camisa 10, porque Zizinho era o dono da camisa 8. No Santos, o Jajá de Barra Mansa atuava com a 8, porque a 10 passou a ser a de Pelé.
Esses monstros sagrados nos encantaram durante décadas com passes e lançamentos precisos e extraordinária visão de jogo. Eles eram os cérebros dos seus times. Todos vestiram a camisa 8.
Em vários times a camisa 8 vestia os meias armadores e muitos ídolos de suas torcidas. Zizinho, no Flamengo e no Bangu, Geninho, no Botafogo, Luizinho, no Corinthians, Rubens, o Dr. Rubis, no Flamengo e na Portuguesa de Desportos, Didi, no Fluminense e no Botafogo, Gerson, no Flamengo e no Botafogo, Neca, no São Paulo, no São Cristóvão e na Portuguesa carioca, Walter Marciano, no Santos e no Vasco.
Na metade dos anos 50 surgiu no futebol brasileiro o maior jogador de todos os tempos: Pelé. Ele tomou conta da camisa 10 e a consagrou mundialmente. A partir daí a camisa 10 passou a ser usada pelo principal craque em alguns times, sendo usada indistintamente por armadores e atacantes.
Assim aconteceu com Zico, no Flamengo, Roberto, no Vasco, Dirceu Lopes, no Cruzeiro, Ademir da Guia, no Palmeiras, Rivelino, no Fluminense. Atualmente, o habilidoso Paulo Henrique Ganso, no São Paulo, e o veterano Alex, no Coritiba, jogam com a 10.
Na seleção Neymar é o 10, mas no Barcelona a 10 é de Messi. Portanto quando se afirma que a maioria das equipes precisa de um camisa 10 é porque necessita de um jogador diferenciado, líder, organizador do meio campo, sem esquecer, historicamente, dos eternos mestres donos da camisa 8.
- Zizinho, Gimenez Molina e Maneco antes da partida Bangu 2 x América 2, no campeonato carioca de 1951.
- Didi ouve o hino nacional depois da final Brasil 3 x Tchecoslováquia 1, no Estádio Nacional de Santiago, na Copa de 1962.
- Gerson, o “Canhotinha de Ouro” do Brasil, na Copa do Mundo de 1970.
- 1948 – Botafogo campeão carioca
- Corinthians – RE 311 – Marcos, Luizinho, Silva, Fluvio e GPorto
- Rubens, o Dr. Rubis, grande contratação do Flamengo no início da década de 50