Por Marcos Eduardo Neves
Conheci Marlos Bittencourt no Jornal dos Sports, faz 12 anos. Eu, um estagiário tímido e introspectivo. Ele, o melhor repórter especial da redação.
Era destemido; enfrentava os poderosos, não tinha medo de vazar informações que fariam o telefone da chefia atender irritadiças discagens de poderosos. Fizemos amizade de cara.
Apesar de estagiário, eu já tinha um livro na praça, a biografia do Renato Gaúcho. Ele me contava do desejo de escrever a própria obra. E escreveu. Em 2008 finalizou o texto, mas por circunstâncias só lançou o livro quatro anos mais tarde.
O romance “Escravos do jogo”, editora Multifoco, traz um texto enxuto, de linguagem rápida e rasteira, em que o autor personifica um ambiente de redação esculpindo detalhes minuciosos do dia a dia de um repórter investigativo idealista e boêmio, Chico Manfrini – personagem que vasculha os bastidores do submundo do futebol na busca do furo que explodirá a banda podre do esporte. É uma ficção, mas parece história real com nomes trocados.
Tive o privilégio de tecer o texto da orelha do livro. A quarta capa é de Pedro Motta Gueiros – para mim, o melhor texto do jornalismo esportivo carioca. Azar dos leitores do O Globo, como eu.
No começo de 2013, com “Nunca houve um homem com Heleno”, fui finalista do badalado Prêmio João Saldanha, da Acerj, o “Oscar” do Jornalismo Esportivo do Rio. Marlos concorria comigo. Ganhei, mas posso afirmar que ele merecia mais que eu, porque o livro dele havia sido publicado no ano anterior, prerrogativa do prêmio. Já o meu, não – era reedição da obra que lancei em 2006.
Aconteceu que, no ano anterior, o grande João Máximo venceu o prêmio com a reedição de “Gigantes do Futebol Brasileiro”, o que me abriu precedente para concorrer. Contudo, como declarou o próprio João Máximo, na 16ª Bienal do Rio, e falo porque estava lá e ouvi, na opinião dele o livro de Marlos deveria ter ficado com a primeira colocação.
Não ficou, mas… a seleção de 1982 também não! E dela falamos e louvamos até hoje. Portanto, reafirmo: “Escravos do Jogo” foi o melhor livro de futebol de 2012. E continua atemporal.
Quem pretende compreender as entranhas do futebol, os bastidores, o que acontece por trás dos panos, tem de abrir as páginas de “Escravos do Jogo”. O resultado embriaga. Na trama, máfia, corrupção, assassinatos, mentiras sinceras e até impotência potencializam a dúvida acerca do desfecho até o instante final. Que surpreende.
Parafraseando o grande Alberto Dines, depois dessa leitura, “você nunca mais vai ver futebol como via antes”.