Por Marcos Eduardo Neves
Neste dia 3 de março, Zico completa 63 anos de vida. Presentes literários estão a caminho. E outros, nas prateleiras de sebos e grandes livrarias. Parabéns, Galinho!
Tenho em minha biblioteca seis livros sobre o eterno Camisa 10 da Gávea: “Zico, uma lição de vida”, “Zico conta a sua história”, “Zico – Coleções Perfis do Rio”, “Zico, 50 anos de futebol” e “Simplesmente Zico”. O outro é “Zico, 60 capas”, uma coletânea com 60 primeiras páginas do Jornal dos Sports cuja edição foi limitada para colecionadores.
Antes de apresentar cada um dos livros acima citados, vale dizer que há mais quatro presentes em andamento para os fãs do bom futebol. O português Luís Miguel Pereira, que lançou em 2015 a “Bíblia do Flamengo”, está finalizando a “Bíblia do Zico”, que ficará à venda no Brasil e em Portugal, a princípio, trazendo inúmeras curiosidades sobre a vida e carreira do craque.
Os jornalistas Vitor Sérgio, André Rocha e Mauro Beting preparam uma biografia sobre Arthur Antunes Coimbra e o super-herói que lhe tomou o corpo. Bruno Lucena e Mario Helvécio fazem uma obra que apresentará pequenos textos sobre cada um dos 826 gols de Zico. Ou melhor, 827. Afinal, o pesquisador Paulo Sérgio de Souza mergulhou fundo nos registros históricos para surpreender o próprio Zico com uma descoberta e tanto. O Galinho não marcou 333, e sim 334 gols no Maracanã – palco no qual figura como maior artilheiro. “Zico 334, o Rei do Maraca” trará a ficha técnica de todas as partidas nas quais ele marcou gol no estádio. Curioso, perguntei a Zico qual ele houvera esquecido de computar em seus alfarrábios. Foi o de Flamengo 2×0 Corinthians, pela Copa do Brasil de 1989.
Zico tem mais de uma dezena de livros publicados no Japão, país que lhe deve demais. Tem outros também na Itália. No Brasil, os cinco que indico são os que falei. Vamos a eles:
“Zico, uma lição de vida”, de Marcus Vinicius Bucar Nunes, foi editado numa gráfica em 1986. Trata-se do primeiro livro que li. Até hoje tenho em mente as páginas do sacrifício desumano por que passou para transformar seu corpo mirrado em um de atleta. A disposição era tamanha, que acordava às 5h30 da manhã e só chegava de volta em casa às 22h30! Tal livro foi atualizado e reeditado recentemente pela Thesaurus Editora.
“Zico conta a sua história”, teve sua publicação veiculada, pela FTD, em 1996. Em primeira pessoa, o Galinho revela que acabava uma partida mais cansado da cabeça do que das pernas, pois pensava cada jogada, antevia quem estava em melhor condição num lance, observava as fraquezas que o adversário apresentava, enfim. Na obra, Zico explica a montagem do maior esquadrão do clube, revela o estado de espírito de alguns companheiros no vestiário do Sarriá e explica que só ele e Carlos Alberto Torres, técnico do Flamengo, sabiam que ele entraria contundido diante do Santos, na final do Brasileiro de 1983.
“Zico”, de Lúcia Rito, editado pela Relume Dumará, em 2000, como parte da coleção “Perfis do Rio”, peca pela autora não entender de futebol. Tanto que ela computou um gol inexistente para o Liverpool na final do Mundial de 1981. Apesar da falha, vale a leitura. Pois ressuscita trechos de entrevistas interessantes e textos de mestres como Fernando Calazans e Armando Nogueira, dentre outros, além de detalhes da vida pessoal que só mesmo uma mulher perguntaria a um Deus da bola. O sofrimento para seguir no futebol, após voltar da Copa de 86, quando chegou a tomar morfina para suportar dores no joelho e suportou 12 horas diárias de fisioterapia sem saber se voltaria aos campos, é parte importante. Na época, Zico levou quatro meses para conseguir esticar as pernas .
“Zico, 50 anos de futebol”, de Roberto Assaf e Roger Garcia, editado em 2003 pela Record, no meu ponto de vista, é o melhor livro sobre Zico. Quem conhece o trabalho da dupla de autores pode imaginar a riqueza de detalhes e a profundidade da pesquisa sobre a qual mergulharam. Zico revela qual foi a única vez que deu palpite de escalação de time a treinador e, num momento tocante, revela: “Eu queria ter tido um clone para ficar lá de cima vendo o Flamengo de 1981 jogar”. Até mesmo sua atuação como Secretário de Esportes do governo Collor, a verdade sobre os problemas que teve com a Justiça italiana e os bastidores do corte de Romário às vésperas do Mundial de 1998 são abordados.
“Simplesmente Zico”, de Priscila Ulbrich, publicado pela Contexto em 2014, traz depoimentos de um sem-fim de amigos e fãs. O craque Alex, por exemplo, demorou meses para enxergar Zico como técnico do Fenerbahçe, pois era um mito. Djalminha assegura que até hoje não consegue ficar totalmente à vontade perto do Galinho. Ivo Meirelles conta que parou de tomar uísque como promessa, na ânsia de ver Zico retornar aos campos, após a entrada do banguense Márcio Nunes. Roberto Dinamite ressalta o gesto de grandeza do amigo, que vestiu a camisa do Vasco para abrilhantar sua despedida. E o ex-meia Vítor conta do dia em que achou que Zico tinha feito um pacto com o demo.
Pacto que, na realidade, Arthur Antunes Coimbra tem com Deus. Talvez ele seja, sem heresias, seu melhor representante no mundo da bola. Não só pelos milagres que fez como pelos sacrifícios pelos quais passou. Inclusive nos calvários, como a perda do pênalti diante da França e, mais recentemente, a negação que o mundo sujo do esporte lhe deu quando tentou ser um nome de oposição na eleição para presidente da Fifa.