Ainda sob o impacto da dolorosa perda do grande jornalista Geraldo Pedroza silencio e oro. Logo o pensamento me leva para aquela simpática figura um pouco roliça, de olhar penetrante é capaz de quebrar qualquer situação com um comentário pertinente e, geralmente, bem humorado, capaz de sintetizar a situação.
Assim ganhava amigos e alguns inimigos, sem abrir mão do que mais amava: fazer do jornalismo, seu ofício, uma lição de vida até a eternidade.
Entre lágrimas da tristeza um sorriso se abre no meu rosto. Pedroza estava vivendo em Ribeirão Preto, aos cuidados do irmão, e lutando contra a perversa Alzheimer. Em conversa com seu irmão Eduardo, dois meses atrás, ele me disse que tinha dias que Geraldo se lembrava de tudo. Como aquele em que pediu para Eduardo ligar para a ACERJ e dar um alô. Ele, um ex-presidente querido, acenando de quilômetros de distância, matando as saudades e, jornalisticamente, como era sua praxe, sinalizando a despedida.
Danado o Pedroza, que na intimidade dos amigos era conhecido como ” Cachorrão”, com aquela cara que lembrava um buldogue, alegre, bravo, animado e combativo, sempre.
Seja no Dia, na sala de imprensa dos jornalistas que cobriam a CBD depois CBF, na noite de Copacabana, ou onde estivesse a notícia, lá estava o Pedroza. Nos últimos tempos, honrado com um esclarecedor livro do nosso amigo e colega Wilson de Carvalho, com toda a sua história e grandes reportagens. Um livro com a dimensão de Pedroza. No lançamento, em Copa, lá estava o Pedroza. Firme, atento e gentil cercado de amigos e histórias.
Para mim, junto com Oldemario Touguinho, foi quem melhor sintetizou um jornalismo antigo, romântico, que marcou época.
Me despeço com uma história que me contou e nunca esqueci, pois sempre me fez abrir um sorriso quando lembro do Pedroza. Em pleno anos de chumbo a CBD, que virou CBF, era comandada pelo Almirante Heleno Nunes. O dia de uma importante convocação para a disputa da Copa do Mundo estava marcado. Na véspera a lista nas mãos do Almirante. Todos os jornalistas loucos para divulgar a relação em primeira mão. O Almirante se sente mal e é internado, por precaução, em um hospital militar guardado pela Marinha.
O que faz Pedrosa? Compra uma roupa de militar e destemido parte com o seu carro para a base, sabendo que qualquer passo em falso seria preso. Na guarita de entrada o protocolar pedido de quem quer ver o Almirante e documentos. Pedrosa não vacila. Voz firme:
– É o filho dele!
Alguns rápidos segundos e a guarita é aberta com a informação do guarda que avisaria o Almirante.
Lépido, Pedrosa entra e vai estacionar o carro. Quando finalmente chega no quarto de Heleno Nunes este o recebe com um misto de alegria e irritação:
– Porra Pedrosa. O pessoal não sabe que não tenho filho e sim filha. Já que você está aqui…
Assim era o Pedrosa. Ultimo romântico de um jornalismo que vai mudando de forma mas não de paixão. Descansa em paz, amigo.
Marcos Penido
presidente da ACERJ 2014/2017